quarta-feira, 17 de maio de 2023

O Regresso


O Regresso
 
A velha estrada estava diferente quando retornei.
Quando parti era uma tarde com verde onipresente,
No meu regresso estava uma manhã fria e enevoada,
E, à minha espera, na estrada, meu cachorro Valente.
 
Primeiro um lacônico latido, seguido de um longo uivo,
Evidenciando que à primeira vista não me reconheceu;
Sinal que os anos já estavam interferindo no seu faro,
Porém, a memória, como a minha, nunca se perdeu.
 
Ele anunciaria minha chegada aos meus velhos pais,
Cuja idade igual, também já lhes tinha tirado as forças;
Meu irmão, segundo as cartas, era quem cuidava da lida,
E da casa, a caçula, que quando parti, era menina-moça.
 
Os abraços e as lágrimas foram realmente inevitáveis,
Afinal, sempre reinara o medo de não nos vermos mais;
Exceto pela fé da nossa mãe, que nunca deixava o rosário,
E o exultante Valente, que não desistira de mim jamais.
 
As histórias ficarão para quando a família toda estiver
Reunida, na espaçosa varanda, ao redor da grande mesa,
Assim todos saberão de uma vez sobre a maldita guerra,
Das poucas alegrias, muitas perdas e grandes tristezas.
 
As cicatrizes cobrem todo o meu corpo e a minha alma,
Como indeléveis lembranças da morte, de tudo que perdi,
Mas meus pais, meus irmãos e até mesmo meu cachorro,
Perderam a alegria de viver, e eu não pude estar aqui.
 
Nardélio Luz
170523
 
 

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