segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Imperdoável




Imperdoável

 

A questão não é mais te fazer acreditar,

Pois já estou cansado de tentar persuadir;

Não deve julgar que porque errei uma vez,

Isto necessariamente terá que se repetir.

 

Dar murros em ponta de faca nunca foi,

E obviamente não é minha ideia de juízo;

Já que quem almeja uma segunda chance,

Abdica de escolhas e faz o que é preciso.

 

Mas se tornou insensata essa contenda,

Já me cansei e não mais pedirei perdão;

Chega de me ultrajar por reles migalhas,

Doravante hei de ouvir o meu coração.

 

Procede como se jamais tivesse errado,

Se achando acima dos defeitos humanos;

Porém não existem santos aqui na Terra,

Todos estamos sujeitos e reles enganos.

 

Engole as lágrimas, pois é tarde demais,

Como vê, o meu pranto também escorre;

Porque a verdade é que em toda relação,

Se não há mais confiança, tudo morre.

 

Assim sendo, minha amada, eis a prosa,

Com a ciência que não pude ter outrora;

O cansaço minou toda minha resistência,

E ainda que te amando, eu vou embora.

 

Nardélio Luz

310122


 

domingo, 30 de janeiro de 2022

A Poesia Que Não Sei Ler



A Poesia Que Não Sei Ler

 

No tempo que te tornaste poesia,

E proclamaste teu escolhido poeta,

Este ser ainda vivia para a boemia,

Deveras feliz, com tal vida incerta.

 

Não me apetecia nada do amanhã,

Vivia sozinho, do cultivo da alegria;

E quando me deste tua mélea maçã,

Tudo nesse arrabalde se fez magia.

 

Perdeste teu poeta e estavas triste,

Mas em mim achaste algum alivio;

Ante o amor a tristeza não persiste,

Eu era porto e tu eras meu abrigo.

 

Eis que és nobre como teu nome,

Tal tua beleza, que pareço sonhar;

Mas nesta hora toda dúvida some,

E só vale conjugar o verbo amar.

 

Às vezes a felicidade se faz utopia,

Portanto, viva o que puderes viver;

Agora que te fizeste de novo poesia,

Resta-me a dor de não poder te ler.

 

Nardélio Luz

270122

 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Teu Último Olhar



Teu Último Olhar

 

Nunca antes havíamo-nos amado tanto!

Nunca antes tanto esmero ao fazer amor!

E não supunha que aquele prazer furioso,

Era não menos que um prelúdio de dor.

 

Quando dissestes que seria a despedida,

Desdenhei, pois não conseguia acreditar;

A tal autoconfiança beirava a arrogância,

E não podia admitir que ia me deixar.

 

Mas teu último olhar, ali junto à porta,

Ligou o sinal de alerta no meu coração;

Algo pungente perfurou minha psique,

E a luz se apagou, restando escuridão.

 

Na mente, a cena do teu último olhar,

Faz gritar em meu íntimo todos os ais;

Prosperando vigorosa a única certeza:

Senti-la em meus braços, nunca mais!

 

Posso lamentar, mas jamais culpá-la,

Tomaste a atitude que te é de direito;

Não é tua a culpa das trevas e da dor,

Criarem raízes dentro do meu peito.

 

Nardélio Luz

200122

 


 

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Saudades de Orvalho




Saudades de Orvalho

 

As vezes me lembro, com saudades,

De um tempo livre de tanto dissabor;

Transcorrera na nossa melhor idade,

E o mundo não conhecia tanta dor.

 

Ainda recordo o caminho de rosas,

E as explosões de perfumes e cores;

De mãos dadas, às tardes de prosas,

Entre juras fiéis de eternos amores.

 

Era uma época de terna inocência,

Onde críamos em corações eleitos;

Antes mesmo das nossas carências,

Prevalecia o mais castiço respeito.

 

Pétala, é uma palavra sem igual,

Que nem sequer sinônimo possui;

E tua alusão de viço e maciez é tal,

Que à própria formosura se intui.

 

Foi em um doce mar de açucenas,

Que sorvi o teu orvalho, doce Flor;

E aquela consagração valeu a pena,

No decorrer de todo nosso amor.

 

Nardélio Luz

060122


 

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

O Bom Amigo Lloyd



O Bom Amigo Lloyd

 

Mesmo passado um pouco da idade,

Ele bate com a força de um asteroide...

Bate tão forte que quebrou meus ossos,

Esse é não outro que o rústico, Lloyd.

 

Levei algum tempo para conhecê-lo,

Mesmo passando juntos dias e noites;

O vi gargalhar após perder uma briga,

A briga na qual era o próprio afoite.

 

Agora conheço o bom e velho Lloyd,

Sei que melhor amigo não pode haver;

No perigo, é com ele que quero estar,

Por um de nós é capaz de morrer.

 

As mãos enrugadas firmes no laço,

Botas nos estribos e a bunda na sela;

Bom no brete... Ah, Marias breteiras!

E na lida do rancho Rocha Amarela.

 

Esse vaqueiro nunca foi um herói,

Tampouco quer que achem que seja;

Indague a ele o que é bom, e ouvirá:

“Um bife gordo, whisky e cerveja”.

 

Fato que um dia todos morreremos,

O capim dos pastos vamos alimentar;

Meu desejo é ir antes do velho Lloyd,

E evitar que vejam este peão chorar.

 

Nardélio Luz

020122