terça-feira, 9 de outubro de 2018

Ela



Ela

Ela é como o vento que desenha nas nuvens,
Que acaricia o meu rosto nas tardes ardentes;
Sempre me conduz a desconhecidas paragens,
Sussurrando tempestuosos versos indecentes.

Ela é como poesia a acalentar meu espírito;
Está na melodia que acaricia meus ouvidos.
É a brisa que inebria com cheiro de saudade,
Perdição boa que desorienta meus sentidos.

Onipresente na inquietude da minha vida,
Está no remexer lúbrico da silhueta esguia;
No corpo quente que incendeia todo o meu,
É o prazer absoluto no vértice que extasia.

Ela existe na humildade que a todos cativa:
A deusa por quem me prostro em devoção.
É a candura que conforta a minha alma fria,
Divindade pela qual ribomba meu coração.

Ela é o cheiro da terra na chuva que chega,
É o amor que se mostra no primeiro olhar;
É o viço do relvado agradecendo o orvalho,
O alimento que não me permite definhar.

É vinho e lareira em frias noites invernais,
A notícia boa que chega em tempos ruins;
É o sol fulgurando nas manhãs cinzentas,
O inesperado reencontro de almas afins.

Nardélio F. Luz

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Ninguém Escolhe Ser Gay



Acabei de receber um vídeo no WhatsApp, no qual o mestre espírita Divaldo Franco responde o questionamento de um rapaz, repudiando veementemente o que ele mesmo se refere como “teoria de gêneros” e ainda usa o termo “aberrações”.

Eu sou hétero, mas tenho ótimos amigos gays, que aceitaram sua sexualidade e não apenas vivem suas vidas sem prejudicar ninguém como são extremamente respeitosos e generosos para com o próximo. E, no fundo, não são esses dois quesitos que importam?

No geral o vídeo é interessante, mas embora respeite muito Divaldo nas questões de espiritismo — mesmo porque ele é um mestre e eu apenas um ignorante —, não concordo com sua opinião que me pareceu preconceituosa na questão dos gêneros.

É realmente uma questão muito polêmica e com todo tipo de interpretações e “certezas” de que a própria opinião é a correta, mas nada fundamentado em provas concretas.

Portanto, deixo aqui apenas a minha opinião, sem querer afrontar ou causar dissabor com qualquer pessoa. Mesmo porque opinião é algo pessoal e não posso pedir que — ainda que não concorde — respeite a minha, se antes não respeitar a do outro.

Tenho amigos gays muito sérios, inteligentes e bem resolvidos e já tivemos longas conversas à respeito, por isso acredito que ser gay não é uma escolha.

Quem é gay de verdade já nasce gay, claro que isso não se manifesta na infância, pois como o próprio Divaldo diz no vídeo, embora em outras palavras, a criança ainda não tem a sexualidade aflorada. A sexualidade desperta na puberdade e é aí que a pessoa descobre a atração sexual pelo masculino ou feminino.

Não creio que a pessoa escolha ser gay; ninguém escolhe ser discriminado e sofrer com preconceito a vida inteira, e no geral é isso que ser gay significa a modo generalizado numa sociedade homofóbica e intolerante ao extremo como a nossa.

Eu sou sim, a favor da discrição e do respeito. Tanto quanto o hétero, o gay não precisa ficar gritando aos quatro ventos que o é, tampouco provar nada para o mundo (portanto acho essas paradas gay totalmente extravagantes e desnecessárias).

Reafirmo, portanto, baseado em testemunhos de amigos sérios e também de observações ao longo dos meus 51 anos de vida — totalmente aparte de religiões, por serem altamente tendenciosas — a minha crença que a pessoa gay não o é por escolha.

Ser gay não é uma doença, tampouco uma “pouca vergonha”, não torna uma pessoa melhor ou pior, nem antissocial ou desrespeitosa.

Quando necessário, a pessoa deve ser julgada pelo seu caráter e não pela sexualidade, pois desde que haja respeito e cada um — gay ou hétero — cuide de sua vida sem prejudicar o outro, para mim está tudo certo.

Da mesma forma que para se TER amigos antes precisa SER amigo, para se TER respeito antes é preciso respeitar.

Nardélio Luz