Sopro de Vida

Sopro de Vida
 
Já faz muitas primaveras que eu a perdi,
e se me perguntar o porquê de estar assim,
feliz e radiante, posso até tentar te dizer.
Embora acredite que não vá compreender,
essa ádvena algazarra dentro de mim.
 
Naquela época a primavera — dela a
estação preferida — era bem mais amena.
O ar não ardia como hoje, de tanto calor,
e somente nossas longas noites de amor
eram responsáveis por tanto ardor.
 
Hoje, não só a cama, mas toda a minha
vida ficou vazia, e no quarto só as aranhas.
E ainda que com esse calor intensificado,
na maior parte do ano minha alma é fria
e resta a companhia dos desesperados.
 
Mas quando chega a primavera, tudo
fica diferente: o sopro dela me traz à vida.
Ela retorna com todo seu frescor e, tal como
estivera antes — tão bela e perfumada flor —
ainda que etérea, me enche de amor.
 
Entende agora minha felicidade, quando
chega a colorida e perfumada primavera?
Há de questionar se perdi as faculdades —
talvez a idade, ou senilidade —, mas creia:
há algo de milagre nesta minha vontade.
 
Nardélio Luz
270923
 

Meu Amor, Minha Poesia

Meu Amor, Minha Poesia
 
Esta noite eu dormi em seus braços...
Acordei o homem mais feliz do mundo;
Após um dia tão fatigante e tumultuado,
Mergulhei em um descanso profundo.
 
Tudo o que eu mais precisei ontem,
Foi de você afagando os meus cabelos;
Até mais do que quando fazemos amor,
Eu pude sentir que a tive por inteiro.
 
A agonia desapegou dos meus ossos,
O cansaço desvaneceu sob o bom sono;
Seu doce perfume aplacou minha alma,
E a sua voz suave se fez o meu abono.
 
Não há nenhum egoísmo entre nós,
Somente o apoio mútuo e irrestrito;
Somos, alegremente, um pelo outro,
No diálogo resolvemos todo atrito.
 
Antes eu não cria em almas-gêmeas,
Mas hoje acredito com muita alegria;
Pois é feita para mim e eu para você:
É meu grande amor, a minha poesia.
 
Nardélio Luz
130923 

Flores no Coração

Flores no Coração
 
Você planta flores no meu coração.
Eu as tenho regado com todo carinho;
E cresce com elas uma vigorosa emoção,
Que não permite que me sinta sozinho.
 
Pena que não esteja aqui fisicamente,
Porém, me visita todas as madrugadas;
Enquanto o orvalho madura as sementes,
Seu abraço renova minha alma cansada.
 
O que seria de mim se não fosse você?
Pois pra aguentar as agruras do dia a dia
E manter a salubridade da minha psiquê,
Somente essa sua injeção de energia.
 
Pergunto por que não estamos juntos,
Mas nenhuma entidade sabe responder,
Sobre esse nem sobre outros assuntos,
Só que nesta vida é como tem que ser.
 
Vivendo o que nos é permitido agora,
As suas flores vou continuar regando,
Uma vez que é certo que à certa hora,
Colheremos o que estamos plantando.
 
Nardélio Luz
120923 

Era Pra Ser

Era Pra Ser
 
Sob o véu suave da noite, de novo fizemos amor,
Em cada toque, em cada suspiro: chama e ardor;
Os corpos entrelaçados, suados, a paixão a arder,
O silêncio se desfez, neste um ao outro pertencer.
 
Na penumbra, nossos desejos se encontraram,
E a luxúria e o amor, agarrados, se refestelaram.
Com a manhã longe de chegar, você se demora,
Mas temos todo tempo do mundo até a aurora.
 
Segundo você, é pra ser a última vez, e isso dói,
Só de imaginar essa cama vazia, a dor me corrói;
Mas se é pra ser a última vez, que seja especial,
E ainda mais que antes, o amor seja magistral.
 
Mas ao partir, o último gesto silencioso te trai,
De costas, na porta, o seu último olhar me atrai;
E meu medo desvanece, levando também a dor,
Não foi a última vez: vi no seu olhar de amor.
 
Nardélio Luz
100923