quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Aos Meus Irmãos



Aos Meus Irmãos

 

Foi uma criação dura, mas cheia de alegrias,

Em harmonia com tudo e com todos ao redor;

Mesmo longe, tínhamos bênçãos do nosso pai,

E nossa mãe presente, sempre fez seu melhor.

 

Na simplicidade vivemos de maneira íntegra:

Somos, os filhos, duas mulheres e dois varões;

Temos um pouco do nosso pai e da nossa mãe,

Mas por ora eu quero falar dos meus irmãos.

 

Nos tempos idos parecia não haver critérios

Para sobrenomes e outros mais que por aí vai;

Mas embora elas não tenham nas assinaturas,

Possuem a força da mãe e a Luz do nosso pai.

 

Como dedos das mãos, também não são iguais,

E cada qual tem suas peculiares características;

Mas antes assim, com suas virtudes e defeitos,

Do que se fossem apenas cópias futurísticas.

 

A mais de 20 anos vivo uma Vida Após a Vida,

Dependendo de todos, inclusive meus irmãos;

Cada um com sua personalidade, a seu modo,

Se sacrificam para não me deixarem na mão.

 

A minha fé, bem sei, nem sempre é profusa,

Mas procuro me reiterar à Deus em orações;

E ainda que eu pouco fale de minha gratidão,

Sou grato demais a vocês, amados irmãos!

 

Nardélio Luz

101220


 

domingo, 6 de dezembro de 2020

Amor Sereno



Amor Sereno

 

Eu queria poder voltar no tempo,

Para o período que nós começamos;

Quando estávamos tão enamorados

E inebriantes carícias partilhamos.

 

Nosso cantinho quase nada tinha,

Na alcova, apenas poucas almofadas;

Todavia, para nossas noites de amor,

Aquilo era mais do que nos bastava.

 

Quando hoje contou-me o sonho,

No qual até fora tomada por ciúme,

Tal e como em um passe de mágica,

Pude sentir de novo o teu perfume.

 

Nosso tempo se foi, disso eu sei...

E a distância sufocou nossa paixão;

O que fora fogo, é um sereno amor,

Que bravamente resistiu à solidão.

 

Tamanho sentimento foi purgado,

E embora ao físico possa causar dor,

Eis que suplantará a própria morte,

Como o faz todo verdadeiro amor.

 

Nardélio Luz

051220


 

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Decrepitude



Decrepitude

 

Ela dança como o vento, em suaves torvelinhos.

O rodopio da silhueta esguia dentro da veste leve

A realça entre os desfalecidos raios do sol poente

Que penetram as imensas janelas envidraçadas.

 

Nas cortinas em v de uma ventana semiaberta,

Posso divisar a brisa adentrando o amplo recinto,

Trazendo em si os suaves aromas de rosas e lírios.

Há muitos perfumes e cores no ar de setembro!

 

Recostado na carcomida poltrona de camurça,

Fecho os olhos na intenção de admirar o jardim

Que ela cultivara em seus tempos de esplendor,

Antes da ciência que esses lhe seriam furtados.

 

Uma vez mais é preciso cerrar os olhos fundos,

Para escorraçar as lágrimas furtivas e teimosas

Que, à minha revelia, pirraçam em embaçá-los.

Nem o lamento acata a vontade de um velho!

 

Embora contemple longos períodos de lucidez,

Já não tenho confiança nas minhas faculdades;

Somente os livros e uma severa formação cristã

Me fazem persistir nesta condição de semivivo.

 

Sem qualquer destreza me levanto do assento

E manquitolo até uma das janelas semiabertas.

Já há tempos não tenho criados para fechá-las,

Tampouco para cuidar da minha decrepitude.

 

A noite caiu e aperto os olhos para enxergar

Os arbustos escuros que um dia foram jardim;

O vestido leve se tornara uma negra mortalha

E da escuridão lá fora ela chama por mim.

 

As flamas das velas bruxuleiam no castiçal

E a bengala soa espectral ao tocar o assoalho.

Não existem cores nem alegrias na alcova fria,

Apenas os odores nauseosos de bolor e morte.

 

Novo acesso de tosse sacode minha carcaça,

Um pouco mais violento que seus antecessores.

As sombras se esgueiram acima do leito vazio

E uma vez mais me deito esperando por ela.

 

Nardélio Luz

110920


 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Renúncia



Renúncia

 

Há uma certa melancolia no contexto,

Refletida na história, nos velhos anais,

Traduzida em saudade do que já se foi

E por mais que deseja, não será mais.

 

Nova manhã, gloriosa como as outras,

Do belvedere ela observa o horizonte:

À esquerda o céu beija o mar ao longe

E a direita abraça o cinza dos montes.

 

As flores embelezam seu observatório,

Enchendo os olhos quão o céu distante;

O vento suave traz o coro dos pássaros,

Tal qual a nostalgia atrai o navegante.

 

Os lábios cerrados não precisam dizer,

Que do coração vem a lágrima vertida;

Porque sua alma aufere compreender,

Que tanta saudade não é dessa vida.

 

Nardélio Luz

201120

 

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Mulheres Bem Brasileiras




Mulheres Bem Brasileiras

 

Existe um tom de pele que seduz...

Não depreciando nenhum outro valor;

É o tom da mulher brasileira que, seja

Negra, loira, ruiva ou morena: é flor.

 

Fêmea que não descrê durante agruras...

Que luta, estuda, trabalha e cria a família;

Nem por isso perde seu poder de sedução

E se mantem flor, apesar do dia a dia.

 

Quando ela surge do banho seminua...

A pele em seda parcialmente arrepiada...

Quão doce é o cheiro e frescor que exala

A embalar todas as ações na madrugada.

 

Aquele sorriso sedutor que hipnotiza...

Nada restando de remorso ou de pudor,

Toda a letargia se transfaz em urgência

Num duelo no qual o amor é vencedor.

 

Se é mulher é flor e também é feiticeira...

Hei de pedir perdão às outras a vida inteira,

Entretanto esta é uma singela homenagem

Às nossas belas mulheres bem brasileiras.

 

Nardélio Luz

171120


 

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Tempo Perdido



Tempo Perdido

 

É verdade que o tempo passou, se foi...

E com ele a nossa linda história de amor.

Dói saber que não mais poderemos fazer

Todas as coisas extasiantes que fazíamos.

 

Mas dói mais ainda imaginar tantas outras

Que poderíamos ter realizado e não fizemos.

Quando jovens somos os donos do tempo...

Ou é nisso que erroneamente acreditamos.

 

Quão tolos fomos por desperdiça-lo tanto!

Na inconsequência dos nossos “achismos”,

Perdemos aquilo que nos era mais precioso,

Sem saber que pagaríamos tal arrogância.

 

Não usufruímos de todo o tempo juntos...

Adiamos aqueles banhos nus de cachoeira

E sequer aproveitamos a escassa luz da lua

Para fazermos amor sob o manto estrelado.

 

Hoje a saudade nos castiga como açoites...

Você aí, tão longe, nos braços da imaginação,

Eu aqui disparado a escrever na madrugada,

Na vã tentativa de sufocar os sentimentos.

 

Não passo mesmo de um tolo esperançoso,

Sem eira nem beira, um cativo das vontades!

Pois quanto mais escrevo, mais me dou conta

Que nada posso fazer por mim ou por você.

 

Sim, sim... eu sei que há grandes chances

De nos reencontrarmos e amarmos outra vez,

Mas paira também a onipresente certeza que

Nada nunca mais outra vez será como antes.

 

Nardélio Luz

261020

Vídeo deste Poena no Youtube


 

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Meus Tesouros



Meus Tesouros

 

É fato que quase todas as artes

São criadas para a coletividade;

E em todos esses casos normais,

Quanto mais amantes, melhor.

 

Porém sempre haverá aquelas

Que primam pela exclusividade;

As artes que não foram criadas

Para mais que um par de olhos.

 

Por serem providas do coração,

Essas são por mim preservadas

De maneira a jamais deixarem

O lacrado cofre da minha alma.

 

Nem antes e nem muito depois

Da minha decadência e morte,

Virão fartar a paixão e os olhos

De qualquer um outro ser vivo.

 

Pois o que valorizo não é ouro,

Tampouco é um quadro valioso

Ou joia rara; porém é para mim

O mais precioso dos tesouros.

 

Nardélio Luz

241020


 

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Mistérios e Vontades



Mistérios e Vontades

 

Já desvendei alguns dos seus mistérios,

Mas fiquei longe de me dar por saciado;

Permaneceu uma insubjugável sensação,

De algo mais que não fora consumado.

 

Você é a recusa que intenta dizer sim,

Em entrelinhas que desafiam o intelecto,

Que só podem ser captadas pelo coração

E seus planos politicamente incorretos.

 

A timidez não a deixa se entregar fácil,

Fato esse que só a torna mais desejada;

É o doce prêmio que faz valer a espera,

Incentivando essa vontade exacerbada.

 

É o fruto proibido que tenta e atenta,

Que de tão doce, me deixa embriagado;

A lembrança de tudo que traz saudades,

Inclusive o mais perdoável dos pecados.

 

Dos seus mistérios, um não desvendei,

E esse mantém acesa a minha vontade;

Pois foi o que iniciamos naquela noite,

Que me fez prisioneiro desta saudade.

 


Nardélio Luz

151020


 

 

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Devaneios



Devaneios

 

Se nossos corpos fossem

ponteiros de um relógio,

marcávamos quinze para as três,

deitados sobre o estrado rústico

naquela madrugada tempestuosa.

 

E enquanto os raios rasgavam

a escuridão encharcada,

seguidos de trovões ensurdecedores,

permanecíamos alheios ao frio

resultante do prélio dos elementos.

 

Olhos nos olhos, sorriso bobo,

boca quase na boca...

Eu quase podia sentir seu hálito delicioso;

quase podia ler antecipadamente

o que estava para me dizer.

 

E meu coração — mais ribombante que os trovões —

permitia à minha imaginação viajar

a recônditos paradisíacos de Terras paralelas,

para um futuro (possível?)

de afetos e prazeres inimagináveis.

 

Nardélio Luz

180520


 

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Primavera


Primavera

 

De modo que avança o setembro tão esperado,

Com boas promessas para um ano tão obscuro;

Que ponha então à prova a crença do esmerado,

E celebre votos de um porvir bem mais seguro.

 

Boas-vindas à beleza e frescor da primavera,

A mais colorida e olorosa das quatro estações;

E traga as boas novas que todos estão à espera,

Preenchendo com amor e júbilo os corações.

 

Que venham as chuvas, também esperadas,

Pois quero sorrir sob os pingos como criança,

Libertar barquinhos de papel nas enxurradas,

E atear à minha alma uma nova esperança.

 

Proteja os nossos biomas de tanta destruição,

Apague o fogo que destrói tudo por onde passa;

Extirpe a ganância desses humanos sem noção,

E lave esse Governo, que nega tanta desgraça.

 

Que Pan assopre com vigor a sua velha flauta,

E faça brotar com viço a verde flora que ardeu;

Pena não poder ressuscitar a tão sofrida fauna,

Só resta chorar por cada vida que se perdeu.

 

O que sustenta a minha crença neste mundo

É a renovação que geralmente advém com ela:

Essa traz a luz para quem já chegou ao fundo,

De uma forma tal que só se vê na primavera.

 


Nardélio Luz

220920


 

sábado, 5 de setembro de 2020

Equilíbrio



Equilíbrio

 

Se a balança da sua vida está desequilibrada

E você presume que está pendendo para o mal,

Não desabe nem culpe Deus ou outras pessoas;

Faça acontecer você mesmo o bem necessário

Para que o equilíbrio seja de vez restaurado.

 

Se não der certo uma vez, tente novamente...

E de novo... Tente quantas vezes for necessário!

A conquista não está ao alcance dos preguiçosos

E nem daqueles que preferem culpar aos outros

Do que assumir a culpa pelas próprias escolhas.

 

Não existe nada de errado em se arrepender,

Pois no aprendizado todo humano pode errar.

Falha é persistir no caminho sabendo-o errado,

Em vez de tentar redimir-se das próprias ações,

Inclusive com humildade de buscar o perdão.

 

Também não há erro em abrir-se com alguém;

Em verdade, às vezes isso é por certo necessário.

Porém, cuide-se para não cultivar a negatividade,

Essa atrai tudo que é ruim e afasta boas pessoas,

Já que a vitimização é um hábito abominável.

 

Como os treinos físicos roboram os músculos,

As provações existem para que não se acomode:

São esforços necessários para seu fortalecimento.

A cada resolução você alcança um novo patamar

E se sente mais capaz na busca pela realização.

 

Seja grato e, sempre que for possível, retribua.

Mas não precisa esperar receber para retribuir...

Tome a iniciativa e faça o que puder pelos outros.

É melhor termos para receber do que para pagar

E nenhum bem que se cultiva é desperdiçado.

 

Nardélio Luz

050920