quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Tão Nós Dois


Tão Nós Dois
 
Tão bom, que tem nos alimentado...
Tão bom, que nos imaginamos assim,
Sem pudor, debaixo do mesmo lençol,
Impecavelmente branco e perfumado.
 
Tão assim, sereno que nos tocamos,
Mesmo sem nunca termos nos tocado...
Tão...Tão... algo que já existe na gente,
Prova que indelevelmente nos amamos.
 
São sentimentos fortes que crescem,
Inerentes ao queimor dos nossos corpos;
As nossas almas abonam todo o fulgor,
Tais quais estrelas que resplandecem.
 
É tão assim, pele na pele, é tão insano...
Os desejos se desdobrando e crescendo,
Alcançando um grau além desse plano,
Que nos leva do magnífico ao arcano.
 
Dueto

Creusa Lacerda & Nardélio Luz
030623

 

Alameda da Solidão


Alameda da Solidão
 
No 36 da Alameda da Solidão
Está a minha alma despedaçada.
Lá também a tristeza fez morada
E a noite oprime o meu coração,
Desde escurecer até a alvorada.
 
Não se ouvem mais cantorias,
As ledas serestas foram embora.
Não é mais como já fora outrora;
Quando as belíssimas melodias
Se esparramavam noite afora.
 
Exceto pelos ratos e baratas,
Hoje quase nada vive no lugar.
Apenas este semivivo quis ficar,
No convívio da saudade ingrata,
Esperando “ela” vir me buscar.
 
Nardélio Luz
301123
  

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

A Viagem


A Viagem
 
A viagem dos meus sonhos
Se dá exatamente no onírico;
Parto desse mundo medonho,
Para onde o contexto é lírico.
 
Galgo com prazer as alturas,
Em voo reto para a liberdade,
Onde guerras são conjecturas
E quimeras fazem a realidade.
 
Ali, o egoísmo é inexistente
E até evitam individualidade;
Como sabe toda aquela gente:
Está no coletivo a felicidade.
 
Não existe dor ou sofrimento,
A poesia é vez e lugar comum;
Onde o final se dá no advento,
Indo longe ou lugar nenhum.
 
A dor é lugar que não existe...
O sorriso, única apresentação;
País onde é proibido ser triste,
E o único governo é o coração.
 
Vadio entre nuvens de prata,
Por ora como turista a visitar,
Esperando a chegada da data
Que irei para não mais voltar.
 
Nardélio Luz
221123

 

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Autoanálise


Autoanálise
 
Sempre que tenho necessidade, corro para cá,
Para este cantinho especial da minha onerada mente.
Neste recanto de luz, sinto-me protegido das coisas medonhas...
Aqui, a lúgubre escuridão não consegue chegar.
 
Há momentos que é necessário...
Ultimamente têm tido intermináveis momentos necessários.
As trevas parecem maiores, mais fortes, mais ousadas...
Espremem meu cantinho de luz, que por pouco não cede.
 
A luta tem sido constante, o lobo cada vez mais voraz...
Têm algumas horas que dá vontade de entregar os pontos.
Mas penso que, se eu cair, não terei mais forças para levantar,
Então desço da calçada, sento-me no meio-fio e descanso.
 
Aproveito a quietude para uma autoanálise...
Sinto que, na verdade, há muito que estava precisando.
Nisso, reforço que meu umbigo não é o centro do Universo...
Tem gente pior por aí, e ainda assim, lutando bravamente.
 
Têm guerras por aí... inocentes com fome... morrendo...
Têm doentes terminais em hospitais, lutando pela vida...
Tem gente que tem tão pouco e, ainda assim, está dividindo...
Então, bate a vergonha... Me levanto e sigo em frente.
 
Nardélio Luz
241123
 

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Pânico na Floresta


Pânico na Floresta
 
A lua pálida tenta mostrar-me o caminho,
Infiltrando-se entre os galhos esqueléticos,
Porém sua tentativa mostra pouca eficácia,
Diante da escuridão quase impenetrável.
 
Sinistros pares de olhos amarelo e âmbar
Juntam-se ao coro de rosnados dantescos,
Para regelar o sangue nas minhas veias e o
Suor frio, que brota entre pelos eriçados.
 
O coração dispara dentro da caixa torácica,
Ameaçando sair pela boca ou explodir meu
Peito, como em uma cena da franquia Alien.
A urina escorre morna, molhando as calças.
 
Os uivos distantes parecem mais próximos,
Brotando guturais das gargantas sedentas.
O ímpeto de sair correndo supera o horror,
Mas as pernas paralisadas não obedecem.
 
Com esforço hercúleo consigo um passo...
Um novo passo e ouço o roçar das pernas
Da calça, reiniciando a trilha sinistra, que
Fora a ignição para a minha imaginação.
 
Um sorriso sem graça, de pura vergonha,
Surge em meus lábios trêmulos. E reinicio
A caminhada, em meio à névoa fria. A crise
De pânico desacelera conforme o coração.
 
Nardélio Luz
211123 


sábado, 18 de novembro de 2023

Proibidos


Proibidos
 
Observo os sedosos cabelos dela ao vento,
Cavalgando o ar fresco da morna primavera;
Invade meu peito uma sensação de liberdade,
Desta minha sonhadora posição privilegiada,
Neste mundo que só existe para mim e ela.
 
As pernas fortes forçam o balanço para trás,
E para a frente o vento ergue o leve vestido,
Descobrindo rapidamente as coxas perfeitas,
Corando levemente o rosto de feições puras,
Que mexem em segredo com minha libido.
 
O balanço promove as mais longas viagens,
Que só obedecem ao roteiro da imaginação;
E nesses lugares que podemos estar juntos,
Onde o patronímico não liga para as castas,
A ânsia das almas nos torna um só coração.
 
O sorriso dela se alarga para o firmamento,
Ao notar com prazer que estou observando;
Quase nunca temos chances de ficarmos sós,
Mas quanto mais nos vigiam e nos proíbem,
Maior a certeza que estamos nos amando.
 
Ali no balanço, no trigal ou na cachoeira,
Em qualquer espaço permanece a vontade;
E no jogo real que não creem em inocência,
A mínima perspectiva de ficarmos sozinhos,
Traduz-se na mais verdadeira felicidade.
 
Nardélio Luz
181123 


quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Rosas Vermelhas


Rosas Vermelhas
 
Da mesma cor dos teus lábios
e do gracioso vestido que usava,
lembrei belas rosas vermelhas,
cujo mostruário embelezava.
 
Percebi logo que iria combinar
com o par de reluzentes alianças,
ali, bem guardado no meu bolso:
estava feliz como uma criança.
 
Dando uma desculpa qualquer,
a deixei no gostoso restaurante,
e corri à costumeira floricultura,
com a mesma euforia de antes.
 
De volta à casa aconchegante,
calorosos aplausos dos clientes,
e de minha doce amada amante,
se tornou mulher permanente.
 
Nardélio Luz
081123 


terça-feira, 7 de novembro de 2023

Gente Que se Acha



Gente Que se Acha
 
Alguém tentou pintá-la como horrível,
Contudo, tenho experiência para saber,
Que quem fala pelas costas, não é crível,
Se fosse do bem, não falaria mal de você.
 
Têm pessoas nefandas, de língua viperina,
Que até a própria saliva é toxina, corrosiva,
Enrola o próprio rabo sujo e senta em cima,
Para apontar erros dos outros com intrigas.
 
Essas pessoas no geral se acham especiais,
E criam imaginárias manias de perseguição,
Acham que as outras perdem o seu tempo,
Para ficarem se sujando com sua podridão.
 
Chegam a ser tão egoístas e assoberbadas,
Que decretam o próprio Deus como aliado,
Sem ao menos atentarem para a verdade,
Que o que exercem não é de Seu agrado.
 
Em alguns casos são elementos doentes,
Em outros se trata de maldade genuína,
Se esquecendo que o que planta colhe,
E terminam por culpar a própria sina.
 
Nardélio Luz
071123
 

sábado, 4 de novembro de 2023

Manhã


Manhã
 
Os pingos de poesia
no orvalho da manhã,
formam linda parceria
com a flora artesã.
 
O sanhaço me espia
enquanto bica a maçã,
e voa na companhia
da poderosa Iansã.
 
Se destaca no verdejo
a florida flamboiant,
cujo rubro é o desejo
em sua forma pagã.
 
A brisa traz consigo
leve cheiro de hortelã,
e em oração bendigo
a natureza guardiã.
 
Nardélio Luz
041123