terça-feira, 13 de setembro de 2022

Sem Olhar Para Trás


Sem Olhar Para Trás
 
O sino era insistente, no campanário a bater,
Muito longe do normal, àquela hora da noite;
Não havia uma viva alma nas ruas, devo dizer,
E um vento muito frio fustigava como açoite.
 
As nuvens cobriam parcialmente a pálida lua,
Enquanto relâmpagos deitavam breves clarões;
Expondo na janela a silhueta de uma dama nua,
E logo atrás dela, uma tríade de cinco-salomões.
 
Mas não era para ter ninguém naquelas ruínas,
Que anos atrás foram consumidas pelas chamas;
Já que as pobres que ali cumpriam as suas sinas,
Tiveram mesmo destino que a Casa das Damas.
 
Então o Céu chorou o pranto rubro e pegajoso,
E do campanário vieram múltiplas gargalhadas;
Eu me apressei para sair daquele vilarejo lodoso,
Mas só consegui quando já era alta madrugada.
 
Eu tremo ao pensar, e mais ainda ao falar disso,
E ainda hoje a minha enfermiça psique se desfaz;
Lembro de ter jurado largar todos os meus vícios,
Quando corria como louco, sem olhar para trás.
 
Nesta hora, que anseio pelo bálsamo da loucura,
Eles visam evitar que eu cometa algum desatino;
E não creem que ao fugir do antro de amargura,
Avistei o demônio pendurado na corda do sino.
 
Nardélio Luz
130922
 

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