sábado, 1 de outubro de 2022

Espinhos



Espinhos

Flor solitária que adorna meu caminho,
Já fazes parte desta minha difusa história;
Como antes me tocaram os teus espinhos,
É teu perfume que hoje toca a memória.

Se bem me lembro, eras tu a mais amada,
E nem sempre viveste tão solitária assim;
Até pelas místicas orquídeas era invejada,
Foste a mais bela e preciosa do jardim.

Amávamo-nos com a lua por companhia,
E as bênçãos do que era divino ao redor;
Minha carne te despia das pétalas macias,
E o vento boêmio enxugava nosso suor.

Quando era chuva, chorávamos com ela,
Urros de êxtase que jamais se ouvira igual;
Após o amor, um belo arco-íris de aquarela,
Em uma hipnótica languidez atemporal.

Éramos, se bem me lembro, sonhadores,
Por paragens tais que em nada facilitavam;
Porém, embora vencêssemos os dissabores,
Eram as graças que sempre nos faltavam.

Quando a fadiga por fim nos alcançou,
Surgiram dúvidas inexistentes até então;
Foi quando o fogo que te impelia se apagou,
E o teu amor abandonou meu coração.

Longos tempos, aqueles, sem esperança,
Em que apenas se ouviam meus tristes ais;
Hoje, porém, só me resta a tua fragrância,
E, sem espinhos, enfim descanso em paz.

Nardélio Luz
271218


 

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