segunda-feira, 11 de abril de 2022

Beleza Maligna



Beleza Maligna
 
Quando ela cessou o longo beijo,
Pude sentir o líquido escorrendo
No meu pescoço, morno e espeço,
E então descobri estar morrendo.
 
Despertei diversas horas depois,
Sem dor, numa alcova estranha;
Padecendo de uma sede terrível,
Que me ressecava as entranhas.
 
Pouco a pouco a memória voltou
E percebi não ter mais pulsação;
Só havia silêncio, uma cama suja,
E na penumbra ao lado, o caixão.
 
O demônio que estive caçando,
Era astuto e me pegou primeiro;
Quão irresistível fora sua beleza,
Que roubou meu sopro cabeiro.
 
Desci daquele leito corrompido,
E cambaleei até o escuro caixão;
A estaca rasgou o seio esquerdo,
Estraçalhando o inerte coração.
 
Os berros feriram meus ouvidos,
E a sede acendia como um farol;
Então abri as corroídas cortinas,
Para uma última vez sentir o sol.
 
Nardélio Luz
110422


 

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