Beleza Maligna
Quando ela cessou
o longo beijo,
Pude sentir
o líquido escorrendo
No meu pescoço,
morno e espeço,
E então descobri
estar morrendo.
Despertei
diversas horas depois,
Sem dor,
numa alcova estranha;
Padecendo de
uma sede terrível,
Que me
ressecava as entranhas.
Pouco a
pouco a memória voltou
E percebi não
ter mais pulsação;
Só havia
silêncio, uma cama suja,
E na
penumbra ao lado, o caixão.
O demônio
que estive caçando,
Era astuto e
me pegou primeiro;
Quão irresistível
fora sua beleza,
Que roubou
meu sopro cabeiro.
Desci daquele
leito corrompido,
E cambaleei
até o escuro caixão;
A estaca rasgou
o seio esquerdo,
Estraçalhando
o inerte coração.
Os berros
feriram meus ouvidos,
E a sede
acendia como um farol;
Então abri
as corroídas cortinas,
Para uma
última vez sentir o sol.
Nardélio
Luz
110422
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