sábado, 19 de novembro de 2022

À Espera



À Espera
 
Entre os arbustos lá fora sopra uma brisa morna,
Que, vez ou outra, posso sentir adentrando a janela;
Nada obstante, o clima aqui dentro da alcova umbrosa
Faz-se tão gélido quanto a dolorosa ausência dela.
 
Um fenômeno febrento faz meu corpo esquelético
Experimentar as duas atmosferas concomitantemente;
Mas, a mente exausta pela insónia, não pode distinguir
Qual delas está dominando o ambiente realmente.
 
No delírio febril eu durmo e acordo, durmo e acordo,
Na esperança de que seja apenas mais um sonho ruim;
Contudo, infelizmente a situação não passa, nada muda,
O coração sangra, a alma chora e ela não volta pra mim.
 
Esperança tola, eu sei... Pois como ela poderia voltar,
Se para o lugar onde foi não pode ter nenhuma volta?
Se tivesse tal chance, ela teria cumprido o nosso pacto,
E certamente noite dessas já teria batido àquela porta.
 
A noite sem lua lá fora já libertou os seus habitantes...
Desejo que adentrem a janela e findem a minha viuvez;
Mas até esses ferozes seres das trevas parecem me evitar,
E só me resta continuar torcendo para chegar minha vez.
 
Nardélio Luz
191122


 

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