quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Os Corvos



Os Corvos

 

E aí estão, às vezes soturnos, noutras aos gritos,

Em sua incansável vigília ao nublado firmamento;

Parecem, por vontade, corroborarem com os mitos,

Porém, com efeito, serão mesmo tão agourentos?

 

Para a maioria supersticiosa, é evidente que sim...

Não obstante, não é meu hábito cultivar crendices;

De forma que permanecem retidas dentro de mim,

Convicções, talvez ancestrais, sem disse-me-disse.

 

Mesmo porque, não vem dos corvos a minha dor...

Não vem do negror em contraste com o céu cinzento,

Tampouco do intenso grasnar horrendo e desafiador.

A minha agonia vem do abismo que jaz aqui dentro.

 

Convivo hoje com méritos dos meus próprios feitos,

Pois ao desperdiçar a minha vida cultivando a ilusão,

Dei origem a esta constrição que deprime meu peito,

E a cada dia diminui o vigor deste obscuro coração.

 

Nada tem a ver os pássaros com minha decrepitude,

Ou com esta pungente agonia disfarçada de saudade;

São somente frutos das extravagâncias da juventude:

A cobrança de toda uma vida de irresponsabilidades.

 

Mas não confunda minha arenga com autopiedade,

Não sou e não é minha intenção esparzir vitimismo;

O meu relato é um pretenso aviso a essa mocidade,

Que é no presente que se evita no futuro o abismo.

 

Nardélio Luz

281021


 

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