Os Corvos
E aí estão, às vezes soturnos, noutras aos gritos,
Em sua incansável vigília ao nublado firmamento;
Parecem, por vontade, corroborarem com os mitos,
Porém, com efeito, serão mesmo tão agourentos?
Para a maioria supersticiosa, é evidente que sim...
Não obstante, não é meu hábito cultivar crendices;
De forma que permanecem retidas dentro de mim,
Convicções, talvez ancestrais, sem disse-me-disse.
Mesmo porque, não vem dos corvos a minha dor...
Não vem do negror em contraste com o céu cinzento,
Tampouco do intenso grasnar horrendo e desafiador.
A minha agonia vem do abismo que jaz aqui dentro.
Convivo hoje com méritos dos meus próprios feitos,
Pois ao desperdiçar a minha vida cultivando a ilusão,
Dei origem a esta constrição que deprime meu peito,
E a cada dia diminui o vigor deste obscuro coração.
Nada tem a ver os pássaros com minha decrepitude,
Ou com esta pungente agonia disfarçada de saudade;
São somente frutos das extravagâncias da juventude:
A cobrança de toda uma vida de irresponsabilidades.
Mas não confunda minha arenga com autopiedade,
Não sou e não é minha intenção esparzir vitimismo;
O meu relato é um pretenso aviso a essa mocidade,
Que é no presente que se evita no futuro o abismo.
Nardélio Luz
281021
Nenhum comentário:
Postar um comentário