Tarde Demais

Tarde Demais
 
Quando me querias, eu não tinha tempo...
Nem mesmo esquentava lugar o suficiente;
Agora perdestes todo e qualquer interesse,
E meu coração dói por ter sido tão ausente.
 
É verdade que nos amamos uma única vez,
E as doces lembranças ainda me dominam;
Tu fostes deveras mais do que eu almejava,
Ainda que pouco passasse de uma menina.
 
Hoje tens toda a razão por não me querer,
Já que teu encantamento ficou no passado;
Por último a fila andou, a balança inverteu,
E perdi a chance de caminhar ao teu lado.
 
Não tenho nenhuma mágoa, nada disso...
Culpa é a única ruindade que posso sentir;
Fizestes tudo que podia e um pouco mais,
Ainda que sem esperança de ter-me aqui.
 
Hoje eu te percebo mais linda que antes...
Uma deusa, a mulher transpirando paixão;
E embora a vontade me rasgue por dentro,
Aquela realidade se foi e só resta a ilusão.
 
Nardélio Luz
300622
 

Toques

Toques
 
Permita-me tocar a tua alma,
Como minha boca tocou a tua,
Em beijos cálidos e urgentes,
Luzentes pela pálida luz da lua.
 
Fomos completamente corpos,
Agora que sejamos muito mais,
Que nossos espíritos se abracem,
E as privações fiquem para trás.
 
Que não haja mais nada incerto,
E todas as incertezas tenham fim,
Que se desfaça qualquer dúvida,
De que habitas dentro de mim.
 
Como há tempos me tocastes,
Com o fogo ardente da paixão,
Permita-me então tocar tua alma,
Como eu já toquei teu coração.
 
Nardélio Luz
250622
 

 

Desarrazoada

Desarrazoada
 
Ao dizer que me amava, acreditei,
Até senti alguma felicidade brotar;
Mas me amar mais que a ti mesma,
Fez meu sexto-sentido desconfiar.
 
Excessos tendem a estragar tudo,
Inclusive chances de algum futuro;
Exagero adoece, torna-se obsessão,
Dana o amor, tornando-o impuro.
 
Eu explico, mas você não entende:
Que não tenho intenção de te trair;
Nada obstante, me sinto sufocado,
Sem meu dileto direito de ir e vir.
 
Amar de verdade é algo libertador,
Não prende e não castra a vontade;
Às vezes pode surgir tristeza e dor,
Mas não há amor sem a liberdade.
 
Você ama o “ter” e se esquece, que
Nem toda ofensa depois se perdoa;
Repete erros acusando sem pensar,
Não liga quanto ou a quem magoa.
 
A sujeição psicológica é execrável,
E, se insiste, os danos vêm depois;
Não existe isso de dois serem um,
Não pode ser um, quando há dois.
 
Nardélio Luz
030222 

Mãe, Anjo de Deus

Mãe, Anjo de Deus
 
Eu poderia falar muitas coisas da minha mãe,
Dentre elas que é a melhor mãe desse mundo;
Que abdica da própria felicidade pela minha...
E que meu amor por ela é imenso e profundo.
 
Mas, em tudo isso estaria sendo redundante,
Já que dona Justa em tudo de bom é soberana;
Está em um nível reservado aos seres divinos,
Dotados de força e bondade sobre-humanas.
 
É provida de grande e extraordinária empatia,
Pela família, amigos, estranhos... seja quem for.
Ainda hoje carrega muitos nas costas cansadas,
Para quem o mereça ou não, ela é puro amor.
 
É o grande exemplo que todos deveriam seguir,
Com quem poucos têm o privilégio de se parecer;
É a própria bondade, digna da admiração maior,
Ela não é de ficar anunciando, mas sim de fazer.
 
Minha mãe sem dúvida é um orgulho de Deus.
Ela foi dotada com a nobreza e força do carvalho.
Hoje colhe mais uma das diletas rosas vermelhas,
Nossa augusta rainha está fazendo aniversário.
 
Nardélio Luz
180622

Grito Silencioso

Grito Silencioso
 
O grito é uma forma de desabafo...
De forçar a voz que por vezes se cala;
De botar para fora o que incomoda...
De rasgar o silêncio que nos retalha.
 
É uma forma eficaz de dizer basta...
Que nem precisa soar como afronta;
Pois nalgumas é de fora para dentro,
Saindo da alma em vez da garganta.
 
Quando algo constringe meu peito,
Grito para meu ego e subconsciente,
Abismos negros que não respondem,
Apenas me ignoram completamente.
 
Eis que ninguém e nada pode ouvir,
E tanta angústia tem poder de cegar;
Ao atar as mãos e a força de vontade,
Mesmo quem vê finge não enxergar.
 
Neste contexto, bradando sem a voz,
Eu sigo no silêncio que é minha vida;
Pois tudo que concebo vem me calar,
E porquanto grite, não existe saída.
 
Nardélio Luz
160622
 

 

Você, Eu e o Vinho

 

Você, Eu e o Vinho
 
Há pouco tempo me sentia perdido,
Triste, amargurado e meio sozinho...
Agora estou na tua salaz companhia,
Degustando esta doce taça de vinho.
 
Recém escapado de uma armadilha,
De uma relação seriamente doentia,
Que afetou minhas sumas verdades,
Tornando-me uma pessoa sombria.
 
Definitivamente eu não culpo só ela,
Grande porção foi de minha autoria,
Pois deixei chegar até onde chegou,
Me fazendo omisso no dia após dia.
 
Me vi ocluso no escuro do quarto,
Tendo por companhia a melancolia;
Na cama vazia, vendo filmes velhos,
Sem nem sequer ver o claro do dia.
 
Mas como tudo na vida tem jeito,
Quando caia na iminência da morte,
Você apareceu e bateu à minha porta,
Trazendo contigo o amor e a sorte.
 
Aqui, agora, no calor desta lareira,
O frio e a vil desdita ficaram lá fora;
Estamos eu, você, o amor e o vinho,
Relegando a tal tristeza a outrora.
 
Já tinha me abdicado da felicidade,
Por pensar que não mais a merecia;
Mas veio você bater à minha porta,
E minha vida voltou a ter poesia.
 
Nardélio Luz
140622

Amor de Agora

 Amor de Agora
 
Dizem que o primeiro amor
É aquele que nunca se esquece.
Mas não vale para todo mundo,
Pois comigo isso não acontece.
 
Meu primeiro amor faz tempo,
Coisa que nem me lembro mais;
Entre adolescência e juventude,
Tempo bom, que ficou lá atrás.
 
Entretanto, também é verdade,
Que há os amores inesquecíveis.
Eu sei porque já tive um assim,
Todavia, não são imperecíveis.
 
Como tudo mais na nossa vida,
De fato, nada existe pra sempre;
Mesmo o melhor um dia encerra,
E resta só saudade com a gente.
 
Mas uma das grandes verdades,
É que de nada importa o outrora;
Passado morreu, não volta mais,
E só vale quem amamos agora.
 
Nardélio Luz
110622
 

Santo Casamentero

Santo Casamentero
 
Na aguardada data de 13 de Júim,
Si comemora com bastante alegria,
O dia de Santo Antõe. Que as mãe
Faiz os voto, pamode casá as fia.
 
Aqui p’ras banda da minha terra,
O povo ainda mantém as tradição;
Inté argo que chama de “simpatia”,
Daná’de conhecida no interiorzão.
 
Argumas só reza e pede pro Santo,
Mais otras já vai muito mais além:
Inté o pendura de cabeça pra baxo,
Ou ferve o pobre no fejão tamém.
 
Eita muiezada que gosta de casá!
Ninhuma memo aceita ficá beata,
E quando o Santo infeza com elas,
Pra ninhuma os tar nó ele desata.
 
Aí é um tar de “deus nos acuda”!
Ajunta inté as avó, as mãe e as tia,
Injuria de praga o pobre do Santo,
Pra ninhuma das fia ficá pra titia.
 
Nardélio Luz
080622

Ela e as Flores

Ela e as Flores

 

As rosas, as vermelhas...

As alaranjadas, as amarelas...

Todas lindas, sem distinção,

Me fazem lembrar d’ela.

 

As cores e os perfumes,

Prestam homenagem a ela.

Sentem saudades, como eu,

Da meiga e gentil donzela.

 

Que me fez pleno e feliz,

Com a sua figura sincera;

E levou todo o meu amor,

Deixando sua alma bela.

 

De orvalho elas choram,

Lembrando da primavera,

Que ela passeou por aqui...

Que alegria era aquela!?

 

Sem sua nobre presença,

Nossa saudade se assevera,

Restando ao meu coração,

A tristeza como sequela.

 

Nardélio Luz

070622

Ébrio

Ébrio

 

O amor mais raro é aquele

Que nos deixa ébrios, flutuando...

Que temos medo até de dormir e

Descobrir que estávamos sonhando.

 

É aquele amor intenso,

Que poucos tem o privilégio...

Que estando juntos é o paraíso,

Mas quando afastados é sacrilégio.

 

O amor que muito quer,

Que muda as regras do jogo...

Que não condescende intromissão,

Que ao mesmo tempo é fleuma e fogo.

 

É o amor que só sentimos

Uma vez. E depois que se acabar,

Como toda finitude desta bela vida,

Não adianta em outra pessoa procurar.

 

Nardélio Luz

050622

 

Despedida

Despedida
 
Confesso que eu pensei no pior,
Quando chegou o dia combinado,
Pois eu olhava insistente o relógio
E o meu amigo estava atrasado.
 
Ao que tudo sinalizava, aquela
Seria nossa derradeira aventura,
Pois seu tempo estava acabando,
Naquela vulnerável conjuntura.
 
Fomos de carro até o Canyon
E escolhemos uma área isolada,
Onde a pesca não era permitida:
Era o apogeu da nossa jornada.
 
Éramos amigos desde sempre...
E aquela seria a nossa despedida.
Fizemos do final de semana frio,
O melhor dessas nossas vidas.
 
Acampamos, corremos de byke...
Até seguimos pegadas de um urso.
Meu amigo nada temia, conforme
Chegava o final do seu percurso.
 
Ao retornarmos à nossa cidade,
Ele seguiu direto para o hospital;
Não pode ver a neve que chegava,
Não conseguiu ver aquele Natal.
 
Nardélio Luz
030622