terça-feira, 3 de maio de 2016

Alhures



Alhures


Bem longe, naqueles tempos idos há muito,
Perdidos nas vertentes das eras e da memória,
Aonde a brisa acariciava delicadamente as flores
Dos aromais jardins explanados nas campinas,
Era tu uma delas: era, pois sim, a mais bela.

Por grande mérito a bênção fresca a envolvia,
Tal qual perpetra com esmero, ainda por estes dias;
Pois que, com o brio dos que possuem alma e coração,
Abdicaste do vigor do caule para te tornares humana,
Unicamente para amar e auxiliar aos teus caros.

Que te sejas ofertado, então, o respeito dos seres
E as estimas dos que ainda estão e dos que partiram,
Pois é certo que esses cantem e rejubilem ao tocar-te,
Tal como fizeram os elementos nas tuas alvas pétalas,
No experimento de render-te homenagens à altura.

Que Boas Novas persistam cavalgando os ventos
Entre canyon’s, sobre o mar e através dos bosques...
Que jamais percam o sublime propósito de abraçar-te,
Com tal afeto que aplaca as dores e dissipa mágoas,
Qual a natureza divina de um abraço de Deus.

A mim, contudo, que remei com displicência,
À espera de ser engolido pelo faminto horizonte,
É obvio que não houve porto, norte ou lembrança,
Mas a desolação cinzenta da minha alma errante,
E o escárnio das gargalhadas às minhas costas.

Agora, Flor, que os anos foram e o vigor se esvai,
Receberás os lauréis de uma existência de virtudes,
Mas a este ser vil que zombou de todos os presentes,
O último será a noção do perdão que não praticou
E o abraço conivente da saudade angustiante.


Nardélio F. Luz