segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Julgamento



Julgamento


Cavalheiros bem nascidos,
Que observam, ouvem, opinam
E estão aí ferrenhos a me julgar.
Saibam, jamais implorarei perdão,
Portanto, cumpram teus esforços.

Se a pena é a máxima, capital,
Que então condenem e efetuem,
De modo algum anseio esquivar.
Que minha idolatrada o execute,
Sem preâmbulo ou remorsos.

Fosse eu um cristão bem criado
E obedecesse leis que não as minhas,
Rogaria só a ela, meu amor, perdoar
Aquela minha sorrateira invasão,
Na mais umbrosa das noites.

A paixão me rasgava o peito
E o desejo se fez mais vigoroso,
Obrigando-me ao ensejo desprezar.
E por tamanha irracional “razão”,
Que venha antes da morte o açoite!

Aproveitei o escancaro da janela,
Que conduzia a fresca brisa noturna,
Para em teu pulcro quarto enveredar.
Senti-me grato ao calor da estação,
Pelo que a pele seminua exalava.

Ali na confortável cama estendida,
Belíssima, deliciosamente adormecida,
No ávido esfalfamento de me esperar.
E agraciado pela sublime e terna visão,
Não havia volta e meu fôlego parava.

Uma mecha dos sedosos fios de ouro
Adornava lindamente a doce e linda face,
Explanando sonhos e jardins a desbravar.
Tocara irreversivelmente meu coração,
Que, embevecido, perdeu a coerência.

Embriagado pelas esguias curvas ―
Pele sob tecido, seda sob seda ―, o ardor
Varreu o plano da nobre idolatria sem tocar.
Com amor, fizemos amor com devoção,
E, correspondido, rescindi a inocência.

Ora estou neste execrável julgamento,
Inquirido por seres pobres de sentimentos,
Por tão bem querer, por muito me encantar.
A hipocrisia decreta sumária condenação,
Mas regozijo por não vir de ti, ó divina.

Que eu seja aqui e agora castigado,
E se amar é pecado, no inferno padecerei...
Nada importa, pois no gozo jurou me amar.
Aproxima-te ó idolatrada de minh’alma,
Peço que aciones tu, a vil guilhotina.


Nardélio F. Luz

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Menina-Flor



Menina-Flor


Menininha de alma pura,
Coração grande e generoso,
Espírito elevado à altura,
Sorriso claro e luminoso...

Encontro-me aqui cedinho,
Em companhia de divindades;
Sob o coro lírico de passarinhos,
Mirando trazer-te felicidades.

O saltitante Pan saúda teu dia,
Em dupla com a Fada das Flores;
Com tua flauta esparrama alegrias,
E a varinha da amada: amores.

Reluzentes pingos de orvalho,
São diáfanos brincos de diamantes,
Que enriquecem o bucólico cenário,
De vários tons verdes brilhantes.

Lírio do campo, doce menina,
De gestos nobres e toques gentis,
És possuidora de aura cristalina
E cheiro de manhãs primaveris.

Não! Não foste tu a culpada
Da arrelia entre o sol e a lua...
Dos ciúmes da dama prateada,
Ou da inveja à singeleza tua.

Acorda para a dádiva da vida,
Que harmoniza com tua beleza;
Deixe o onírico, venha pra lida,
Acompanhe-me por gentileza.

Os dilúculos raios do astro-rei
Convidam-na, ó flor-menina...
Traz o teu esplendor, que, sei,
Provoca o êxtase e alucina.

Mostre-me teu sorriso virginal,
Deixe teus sonhos, menina-flor!
Contemple este momento eternal,
Venha pra vida... Sinta o amor.


Nardélio F. Luz