domingo, 30 de abril de 2017

Caçada




Caçada


A noite calma tenta me acalmar,
Enquanto as horas me devoram.
Já faz tempo que peguei o rastro,
Que se move mais como arrasto.

A bestialidade inominável deixa
Sulcos rubros na lama insalubre.
E os odores malditos do pântano
Bagunçam feio os meus sentidos.

Não creio nessa droga de inferno,
Porém, em seus últimos delírios,
O ancião moribundo mencionou
Algo sobre uma lenda ancestral.

Fala de uma cidadela submersa
Onde hiberna uma antiga besta
À espera do exato alinhamento
De ignoradas estrelas lúgubres.

Ao que parece o diabo acordou,
Mas me topou em seu caminho.
“E eu sou o melhor no que faço,
Ainda que não seja agradável.”

A gosma seca nas minhas garras
E a acidez corrói o adamantium.
O fator de cura do ser tentacular
Deixa o meu abaixo do chinelo.

Não devia fumar numa caçada,
Mas ao diabo com essas regras!
O charuto me mantém na linha,
Lembrando meu lado humano.

Os pelos da minha nuca eriçam
E meu faro capta o fedor ácido.
A besta se arrasta para o mar...
Saciada com sangue humano.

“Eu falhei feio contigo, Xará!”,
Rosno para o confiante Xavier.
A água não é meu ambiente e
Cthulhu retorna vivo a R’lyeh.


Nardélio Luz
300417

sábado, 22 de abril de 2017

Descrença



Descrença


Somos prólogos de histórias
Infelizes que construímos;
Que talvez nem nossas são,
Ou se são, não assumimos.

Parte de nação despencada
Sob os tapetes escondidos,
Os nossos próprios pecados
Jamais sequer assumidos.

Perdoáveis quando seus,
Hediondos quando não;
Pândegas feitas de breu,
Crias rastejando em vão.

Pecados pequenos que
Atenta e nunca assume,
Numa mescla de ilusão
Boa de seguir impune.

Pobres símios pelados,
De astúcia despojados,
Com cérebros graúdos
Pseudo bem-dotados.

Infeliz gado indecente
Que se faz tão ingente,
Porém tal como gente,
Nem sequer o sente.

E domado por inteiro
Mal sente a pontada
Quando o boiadeiro,
Cruel, o faz boiada.


Nardélio Luz
220417