sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Morena


Morena
 
Não bastasse a descendência indígena,
Tão linda quanto é possível mencionar,
Possui estirpes paraguaia e portuguesa:
A mais bela brasileira que pus o olhar.
 
A voz é verdadeiro sussurro de anjos,
O corpo esguio, obra de cinzel ditoso,
E a cascata castanha-escura, que orna
O rosto perfeito, de sorriso luminoso.
 
Morena que habita a Cidade Morena,
A tua beleza cabocla é incomparável;
Eu poderia transitar por mil mundos,
Que nunca acharia fêmea tão notável.
 
Não é só o físico, já que esse fenece,
Mas o coração, o amor pelos animais,
A alma pulcra, colorida e perfumada,
É o maior orgulho de teus ancestrais.
 
Muita feminilidade, forma teu nome,
E nunca ouvi significado mais normal;
Embora haja outras divas admiráveis,
És minha musa, és mulher sem igual.
 
Nardélio Luz
220222

 

domingo, 20 de fevereiro de 2022

Maturidade



Sobre a Maturidade
 
Passei quase toda minha vida até aqui,
Acertando e errando como todo mundo;
Às vezes mais errando do que acertando,
Jamais desistindo, até chegar ao fundo.
 
Não devemos reclamar das provações,
São necessárias para nosso crescimento;
É preciso a cicatriz para lembrar da dor,
E assim também são com sentimentos.
 
Percebi que a beleza física é efêmera...
Por certo tempo pode até facilitar a vida;
Mas se a pessoa não apura outros dotes,
Chora o fracasso de ter sido favorecida.
 
Devemos lutar, mudar o que podemos,
Bem como é vital aceitarmos o imutável,
Seguir em frente apesar dos infortúnios,
E não perdermos tempo com o instável.
 
Como pais erramos em nome do amor,
Ao escudarmos os filhos de seus senões;
Como as aves, eles têm de voar sozinhos,
Para no porvir não viverem sob sermões.
 
É certo que quem fala cá, também fala lá,
Arriscar-me-ia sobre o bem e a maldade;
Mas esse pouco é suficiente para atestar,
O muito que aprendi com a maturidade.
 
Nardélio Luz
200222



 

sábado, 19 de fevereiro de 2022

Eu Viajante



Eu Viajante
 
Enquanto a chuva desce, fina e constante,
A memória me transporta para tempos idos,
E feitos que me levam a imergir na saudade,
Até ter os ternos devaneios interrompidos.
 
Nenhum raio me avisou do súbito trovão,
Mas esse nem de longe foi desagradável.
Através da vidraça, observo o céu cinzento,
E esboço um sorriso ao momento amigável.
 
São simples e belas as criações de Deus!...
Os galhos roçando na vidraça respingada...
A brisa acariciando através da grande janela,
Fresca pela chuva que iniciou na madrugada.
 
A viagem retorna ao ponto de interrupção,
Revivendo as longas cavalgadas de outrora,
Quando o verde ilimitado esparzia liberdade
E não carecia preocupar com dia nem hora.
 
O presente se mistura com as lembranças:
A sela molhada era motivo de reprovação...
Agora, cavalgar sob a chuva ficou para atrás,
Mas a liberdade está na minha imaginação.
 
Nardélio Luz
180222


 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Exageros



Exageros
 
Não exagere nas coisas que tem a dizer!
Não é bonito, não é crível... Não é saudável!
Ainda que profusos, as pessoas têm padrões,
E exageros te darão uma fama desagradável.
 
Não é mais criança pra se dispor a tal papel,
Seja razoável, evite dar motivo para chacota;
Todos distinguem as verdades das mentiras,
É só o que peço: não faça papel de idiota.
 
A ponderação é uma virtude preciosa,
É algo que deveria exercer mais que tesão;
Pois ver as pessoas rindo dos teus excessos,
Entristece a ponto de oprimir meu coração.
 
Seja tão somente você mesma, eu te peço,
Não têm motivos para ser tão desvairada;
Contenha o teu ego, pois menos é mais,
E não precisará chorar na madrugada.
 
Não há crítica em te pedir pra maneirar,
É só que de forma alguma quero teu mal;
Exagerar com o único intuito de aparecer,
De forma nenhuma pode ser algo natural.
 
Uma grande mulher em todos os sentidos,
Fêmea esplêndida que nem precisa disso;
Indubitavelmente a Eva do meu paraíso,
Você é paixão, se não exerce teu vício.
 
Nardélio Luz
160222


 

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Solidão



Solidão
  
A solidão é uma ave agourenta,
Sempre à espreita no deserto árido
Dos sentimentos moribundos.
 
É serpente de aparência afável
A deslizar na depressão sorrateira,
Sem prenúncio do bote malévolo.
 
É artimanha constritora que oprime
O peito inapto ao desdém do outro
Quando fenecido o tesão anterior.
 
É ouvir justificativas esfarrapadas
Na configuração de palavras vazias
Que nada dizem, tampouco tocam.
 
É ser um fantasma na multidão;
Intangível, combalido e insensível
Aos ingentes prazeres da vida.
 
É estar ao léu na trilha da renúncia
E exposto à vil melancolia da alma,
Agrilhoada à inépcia de expressão.
 
É o pranto ermo ao perder o sono
Num lamento lúgubre de saxofone
Reverberando no silêncio noturnal.
 
É errar pelos caminhos da memória
E vegetar nos abraços da nostalgia,
Privado do balsâmico esquecimento.
 
É sentir o emudecer da esperança,
Debilitada perante as regras da vida,
Na desventura de nada poder fazer.
 
É a usualidade que tortura o coração,
Exprimida em exclamação silenciosa
Abonada pelo ímpio poder do acaso.
 
A solidão é mesmo existir sem viver...
É não ter o affaire da furtiva felicidade,
É ter sonegada ou renunciar a toda fé.
 
Nardélio F. Luz
120606

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Fantasma





Fantasma

 

Eu que sondo teu quarto enquanto dorme

E velo por teu sono profundo

Eu que ouço os suspiros de menina

E permeio teus sonhos mais secretos

Também seguro tua mão e toco teu coração

Durante os medonhos pesadelos

Eu que sopro teu pescoço nas noites quentes

Incutindo aquele arrepio prazeroso

Que te faz arquear as sobrancelhas

Ciente da ausência de brisa

Eu que provoco teu sorriso largo

Na infinitude das lembranças

É meu abraço etéreo que conforta

E aplaca o frio da tua pele

Sou aquela sensação reconfortante de presença

Quando você não vê ninguém

Sou o pecado que não se consuma

Tanto quanto o que não pode ser pecado

Pairo sobre ti a noite em contemplação

Em proteção e desvelo

E a aviso dos perigos da vida diurna

Eu que advogo contra o mal em tua defesa

Eu sou esse sentimento que não compreendes

E ainda assim teme perder

Sou essa falta que sente

Esse vazio que não preenche

Sou o pouco que você teme

E o muito que não resiste

Sou o respeito de te ver sem tocar

De tocar se consentir, se pedir

Sou o fogo incompreensível

Que te faz arder de prazer

Que te queima sem doer

Que te invade sem machucar

Sou a ternura que te envolve

Sou o que tu esperas de mim

Sem nem mesmo perceber.

 

Nardélio Luz

020514