sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Viagem



Viagem


Noutra noite pensei estar sonhando que dançava com um anjo em forma humana. E conforme a dança transladava entre as músicas lentas — cada qual mais bela que a antecessora —, eu me inebriava com o perfume suave que exalava da pele morena — cujos pelinhos eriçados naquele pescoço próximo traduziam emoções tão arrebatadoras quanto as minhas; eu afastava o rosto para mirar o castanho mais escuro que os meus daqueles olhos conhecidos — em sua noite mais brilhante até então , e a feminilidade dela parecia se precipitar em cascatas; os lábios entreabertos esboçavam um leve sorriso — num convite para o qual palavras eram obsoletas. Para qualquer observador curioso — totalmente irrelevante ao nosso mundo particular —, nossos corpos pareciam um só, no embalo suave da melodia. E, sem que qualquer mortal percebesse, nossas almas — abraçadas tais quais os corpos — regozijavam aquela congregação há muito aguardada. O salão apinhado havia se tornado uma praia deserta e tudo mais ao redor era irrelevante. Mas, então, o tique-taque do relógio na parede me fez desconfiar do sonho e, ao abrir os olhos, apesar da escuridão dominante notei que estava acordado. Era apenas minha portentosa imaginação em mais uma de suas prodigiosas viagens ao passado, alentada por lembranças que o tempo e o espaço falharam na incumbência de desfazer. E que bom que até esses senhores falham!


Nardélio Luz

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Devaneios



Devaneios

Se nossos corpos fossem ponteiros de um relógio, marcávamos quinze para as três, deitados sobre o estrado rústico naquela madrugada tempestuosa. E enquanto os raios rasgavam a escuridão encharcada, seguidos de trovões ensurdecedores, permanecíamos alheios ao frio resultante do prélio dos elementos; olhos nos olhos, sorriso bobo, boca quase na boca. Eu quase podia sentir seu hálito delicioso, e meu coração — mais ribombante que os trovões — permitia à minha imaginação viajar a recônditos paradisíacos de Terras paralelas, para um futuro (possível?) de afeto e prazeres inimagináveis.

Nardélio Luz
251016

domingo, 16 de outubro de 2016

Sublime




Sublime


Da tua angélica nudez de ouro,
Donde poros vertem gotículas,
O arquejo transige à languidez
No terno e merecido repouso.

Dois corações desacelerando
E meus abraços a estreitar-te
Enquanto te aninhas na areia
E a respiração retoma a calma.

Ensaiamos gêmeas emoções
E os lábios em sorrisos bobos
Pregam juras de cumplicidade
Na promessa dos dois olhares.

E que clero poderia condenar
A consumação que ultrapassa
Todos os patamares humanos
E arrebata um deleite divino?

É como a nossa primeira vez...
É sempre nossa primeira vez!
Pois constituímos o equilíbrio
E és em mim como sou em ti.


Nardélio F. Luz

domingo, 9 de outubro de 2016

Lenon Portes entrevista Nardélio Luz




Entrevista que dei ao Lenon Portes, youtuber  e locutor da web radio Conect Music Box, na qual eu também apresento o programa “Músicas & Poesias”, todas as terças-feiras das 19 às 21 horas.

Acabei me enrolando um pouco e infelizmente não falei tudo que precisava, mas mesmo assim ficou muito legal e acho que vale a pena ouvir.