terça-feira, 27 de julho de 2021

Compunção




Compunção

 

Às vezes o peito fica apertado

E não fazemos ideia do porquê;

O coração parece meio cansado,

Sem a menor vontade de bater.

 

Então volta à nossa lembrança,

Assuntos de um tempo anterior;

Questões mal, ou não resolvidas,

Que levaram a algum dissabor.

 

O opositor até pediu desculpas,

E na hora disse tê-lo perdoado;

Porém o fez só da boca pra fora,

No fundo continuou magoado.

 

O que naquela ocasião deveria,

Era também ter pedido perdão;

Já que ninguém peleja sozinho,

Seriam duplos indultos, então.

 

Não existe briga em monólogo,

Para tal precisa no mínimo dois;

E se não ficar resolvido na hora,

Terá sempre que fazê-lo depois.

 

Exercite, portanto, a humildade,

Não há desonra em voltar atrás;

Pois admitir que também errou,

É que irá restabelecer a tua paz.

 

Nardélio Luz

210721


 

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Tapera



Tapera

 

A maioria discorda dos meus sussurros,

Então pouco verso, para não desagradar.

Afirmam que trafego entre dois mundos,

E na maior parte perduro do lado de lá.

 

Não me atino se sou do bem ou do mal;

Não me apego a ideias que o tempo dilui.

Só vou me guiando pelas vielas dos anos,

Tal qual um espectro do homem que fui.

 

Gosto da melancolia das velhas ruínas,

Com suas histórias perdidas no tempo.

Sonho com mitos de velhos fantasmas,

Como os que à noite se ouve no vento.

 

Uma dessas taperas é tão excepcional,

Que nem o passado consegue derrubar.

Tal que as lembranças ferem como faca,

E de forma alguma se deixam apagar.

 

Essa casa velha é minha própria vida,

Dentre as lendas anciãs, uma peculiar:

Existo vagando entre paredes mortas,

Que não me permitem sair do lugar.

 

Nardélio Luz

220721