Os Últimos Seis
Nicolas
reinicia a projeção holográfica. O silêncio sepulcral permite aos seis tripulantes
da Estação Espacial Internacional (EEI) ouvirem suas próprias respirações,
enquanto observam pela terceira vez a mancha vermelha iniciar-se na Amazônia e se
espalhar por todo o globo terrestre. Abaixo um contador digital para no número
28.
— Aliens malditos! Só precisaram de 28 dias
para dizimar oito bilhões de pessoas! — a médica chinesa perde sua calma
habitual.
— Calma
Nai-jian! — pondera tristemente o engenheiro brasileiro.
Em
seguida ele desvia o olhar para os outros astronautas, fixando–o na bela Noreen.
Dava-se bem com todos, mas se descobrira apaixonado pela astrofísica
norte-americana e a ideia de repovoar o planeta com ela muito lhe agradava.
Quando a crise começou ele fora tomado pela raiva devido àquela merda toda ter
iniciado na base de pesquisas dos EUA na Amazônia, mas seu lado racional se
aliara ao desejo secreto em defesa da moça. Ela não tinha culpa de seus
compatriotas meterem o nariz em tudo. Tampouco esses a tinham, já que também
foram marionetes dos alienígenas.
— Não
podemos ser os únicos sobreviventes! — manifesta-se Nikolic, em apoio à colega
chinesa. — O Kremlin e a maioria dos governos do mundo possuem bunkers
antinucleares de alta tecnologia e...
—
Camarada Nikolic — interrompe Nassaar —, nenhuma tecnologia terrestre é páreo
para esses seres! Segundo os instrumentos de Norah não há sobreviventes.
— Nassaar
está correto — a norueguesa especialista em robótica confirma friamente sob o
olhar irado do biólogo russo. — O campo de força alienígena protegeu sua nave, a
EEI e alguns satélites, mas o planeta foi varrido pelos vírus e pulsos
eletromagnéticos. O que escapou ao vírus orgânico sucumbiu asfixiado nos
complexos subterrâneos e subaquáticos.
A
loiríssima Norah na maior parte do tempo é fria como gelo, mas embora todos ali
sejam PhD nas suas respectivas áreas, gostara da sugestão de Nicolas para
abrirem mão das formalidades.
Os
alienígenas, que os humanos chamam de “Sombrios”, são silenciosos e usam telepatia
para estudar os cérebros primitivos, mas tal recurso é uma via de mão dupla e
foi desse modo que o sexteto soube de sua missão. A visão de outros mundos, com
seres de diversas aparências e estágios evolucionários, nos quais o sistema
tinha sido implantado, era algo extraordinário. Mas aquele fardo seria pesado demais
para pessoas comuns, então os Sombrios selecionaram e influenciaram
telepaticamente os seis que melhor preenchiam os requisitos genéticos, físicos
e psíquicos, de forma que estarem isolados naquele local e tempo não era
aleatório.
Nassaar
era o único que possuía laços religiosos, mas a crença caíra perante tais portentos.
Embora aterrorizado, como geneticista ficara fascinado pelo domínio alienígena da
manipulação de DNA e soube que a consanguinidade não seria problema para os
descendentes dos seis. Embora pudessem manusear a vida in vitro, os Sombrios escolheram lhes presentear com noções jamais
sonhadas e permitir que propagassem a espécie naturalmente.
A
internet, ondas de rádio e redes de energia espalharam o vírus tecnológico por
todo o planeta antes dos pulsos eletromagnéticos varrerem toda a tecnologia,
mas fora o vírus orgânico que deixara os cientistas incrédulos. Seu DNA
alienígena fora programado para contagiar apenas humanos, preservando toda e
qualquer outra forma de vida no planeta. O contágio se deu pelo ar e fora
assintomático durante um tempo, para que fosse transportado aos lugares mais
remotos do globo.
Quatro
meses se passaram desde a aniquilação. Receberam todas as instruções e
equipamentos, é chegada a hora. O timer
da câmara criogênica abrirá automaticamente em 500 anos, quando a natureza já
tiver se recuperado da degradação humana. Nesse interim estímulos cerebrais tornarão
os seis mais evoluídos para sobreviverem à nova realidade. São a última chance
da humanidade e se repetirem os erros de seus antepassados, a raça será extinta.
— O que
está fazendo aqui? — indagou Noreen, sonolenta.
Nicolas observa
a jovem em trajes de dormir e pensa que ela nem se dá conta da própria
sensualidade. Possuindo-a agora, terá belos sonhos nos próximos 500 anos.
— Não
Nicolas! O que está fazendo? — os protestos verbais são paralelos às tentativas
de rechaçar o engenheiro.
— Vamos
doçura, eu sei que você também me quer! — suas mãos parecem tentáculos a
explorar o corpo esguio.
— Nãoooo!!!
Eu e Nassaar...
O
protesto é enérgico e traz à tona uma ira que nem os testes sombrios haviam
detectado naquele homem. Quase rosnando, ele a cala com a própria boca enquanto
as mãos rasgam as sedas. Sem forças, Noreen morde o lábio inferior do algoz,
arrancando sangue e um urro de dor. O impacto do soco é a última coisa que ela sente
antes de desfalecer.
— Cadela!
Trocou-me por aquele árabe magrelo, mas será minha de qualquer jeito!
Dentro da
cabeça irada soa um pensamento dos Sombrios. Algo a ver com arrependimento... Escolha
errada...
— Vocês
não podem me impedir, demônios malditos! — grita sobre o corpo inconsciente. —
Em meio milênio não estarão aqui e serei o único capaz de pilotar o módulo que
levará seus bichinhos de estimação de volta a Terra!
Noreen
sente dores nas partes íntimas, seios e rosto. Tentara disfarçar com maquiagem,
mas precisou de uma boa mentira para justificar o inchaço. A dor psíquica é
indizivelmente pior que a física, mas vingará aquela atrocidade quando acordar
dali a meio milênio, tão logo o maldito aterrisse o módulo no planeta. Algo
pior que a morte o fará se arrepender daquela noite! Sem se importar com os aliens asquerosos monitorando seus
pensamentos, ensaia um sorriso amargo enquanto a gosma criogênica cobre sua
nudez ferida.
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