Flagelo
Eu a observava quase flutuando sobre a relva...
tais quais os onipresentes capuchos brancos
que gentilmente lhe faziam companhia,
vagando no céu azul da manhã morna.
O ar esparzia perfumes diferentes, exóticos,
e chegavam aos meus ouvidos descansados
os guturais versos das lampeiras gaivotas, que
estranhamente pareciam recitar Baudelaire.
O suave toque umedecido da maresia
trazia ligeiro conforto à minha pele quente
e um forte contentamento por estar perto do mar...
aquela sensação de fazer parte do mar.
Porém um vento súbito fustigou a relva alta ao
redor,
chicoteando inclemente meu semblante surpreso,
tais quais os longos e suados cabelos dela
nas nossas noites de sôfrego arrebatamento.
O aguaceiro chegou repentino como a desdita...
não houve tempo para reagir... só para gritar...
enquanto trovões zombavam da minha impotência,
gargalhando do meu inútil prélio interior.
Arrastada para longe, ela não mais flutuava...
o céu azul se tornara escuro e bravio... o
penhasco...
e num último vislumbre um raio feriu severamente
as trevas vingativas que nos flagelavam.
Nardélio Luz
200121
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