O Regresso A velha estrada estava diferente quando retornei. Quando parti era uma tarde com verde onipresente, No meu regresso estava uma manhã fria e enevoada, E, à minha espera, na estrada, meu cachorro Valente. Primeiro um lacônico latido, seguido de um longo uivo, Evidenciando que à primeira vista não me reconheceu; Sinal que os anos já estavam interferindo no seu faro, Porém, a memória, como a minha, nunca se perdeu. Ele anunciaria minha chegada aos meus velhos pais, Cuja idade igual, também já lhes tinha tirado as forças; Meu irmão, segundo as cartas, era quem cuidava da lida, E da casa, a caçula, que quando parti, era menina-moça. Os abraços e as lágrimas foram realmente inevitáveis, Afinal, sempre reinara o medo de não nos vermos mais; Exceto pela fé da nossa mãe, que nunca deixava o rosário, E o exultante Valente, que não desistira de mim jamais. As histórias ficarão para quando a família toda estiver Reunida, na espaçosa varanda, ao redor da grande mesa, Assim todos saberão de uma vez sobre a maldita guerra, Das poucas alegrias, muitas perdas e grandes tristezas. As cicatrizes cobrem todo o meu corpo e a minha alma, Como indeléveis lembranças da morte, de tudo que perdi, Mas meus pais, meus irmãos e até mesmo meu cachorro, Perderam a alegria de viver, e eu não pude estar aqui. Nardélio Luz 170523
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