Solidão A solidão é uma ave agourenta,
Sempre à espreita no deserto árido
Dos sentimentos moribundos. É serpente de aparência afável
A deslizar na depressão sorrateira,
Sem prenúncio do bote malévolo. É artimanha constritora que oprime
O peito inapto ao desdém do outro
Quando fenecido o tesão anterior. É ouvir justificativas esfarrapadas
Na configuração de palavras vazias
Que nada dizem, tampouco tocam. É ser um fantasma na multidão;
Intangível, combalido e insensível
Aos ingentes prazeres da vida. É estar ao léu na trilha da renúncia
E exposto à vil melancolia da alma,
Agrilhoada à inépcia de expressão. É o pranto ermo ao perder o sono
Num lamento lúgubre de saxofone
Reverberando no silêncio noturnal. É errar pelos caminhos da memória
E vegetar nos abraços da nostalgia,
Privado do balsâmico esquecimento. É sentir o emudecer da esperança,
Debilitada perante as regras da vida,
Na desventura de nada poder fazer. É a usualidade que tortura o coração,
Exprimida em exclamação silenciosa
Abonada pelo ímpio poder do acaso. A solidão é mesmo existir sem viver...
É não ter o affaire da furtiva felicidade,
É ter sonegada ou renunciar a toda fé. Nardélio
F. Luz 120606
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