O Sobrado
O sobrado, com seus dois pisos de solidão,
Se ergue para a noite fria, pouco iluminado;
Como se para lembrar os poucos passantes,
Todo seu esplendor do longínquo passado.
A lua vilã parece zombar da reles tentativa,
Deitando jovens raios prateados nas ruínas;
Incute às formas fantasmais algo medonho,
Por terem sido palco de negras disciplinas.
Agora habitat de morcegos e gatos vadios,
Não parece ter sido tão brilhante mansão;
Nenhum sinal restou da família orgulhosa,
Ou do severo patriarca de negro coração.
Apenas ervas-daninhas crescem ao redor,
Na terra pestilenta tomada pela corrupção;
O ar em seu interior é pesado e insalubre,
E só resta mesmo a famigerada podridão.
Não obstante, segundo algumas línguas,
Algo sinistro a velharia ainda comporta:
Vultos antigos que por lá perambulam,
Já que a maldade não pode ser morta.
Nardélio Luz
260722