sexta-feira, 2 de março de 2018

Condenado




Condenado

O fluído que verte destas chagas vis,
Recém expostas pela herética lâmina,
Deita cascatas rubras pelo velho cepo
E eleva ao intolerável minha agonia.

Qual grande culpa levou-me à morte
Quando meu pecado foi amar demais!
Porém pereceria infindas vezes mais,
Desde que outras tantas a possuísse!

De joelhos na primeira fila da plateia,
Belos olhos se desviam lacrimejantes;
Mas uma mão brutal os força de volta,
Já que o exemplo precisa ser assistido.

Naquele olhar há tanta cumplicidade,
Tal como o bálsamo extirpando a dor:
A contrastar com o ferroso do sangue,
Chega-me à boca o doce das tâmaras.

Num último olhar observo as feras:
Sua sede de sangue supera as orações.
Se toda aquela gente condena o amor,
Eu cuspo meu sangue na sua religião.

Um sádico rosnado vaza da boca podre,
Todavia já não incute terror. Não mais!
E quando o carnífice ergue o machado,
Depara-se com meu escarnico sorriso.

Nardélio Luz
010318

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