Longa
Vigília
Arqueado sob o peso das eras,
Que também consumiram as cores
Das coniformes paredes outrora fulgentes
E deram vigor aos fungos e trepadeiras,
Ele capenga com máximo esforço
Até a janela do lado poente.
O par de profundos olhos negros,
Estranhamente poupados apesar da idade,
Brilha em meio à profusão de pelos imundos
Em irregulares clareiras entre celhas e
bigode,
Observando pela última vez — espera ele —
O oceano verdejante de copas abaixo.
Os poucos dentes apodrecidos,
Bem menos conservados que os olhos,
Esboçam um sorriso entre confuso e triste,
Noutra abertura entre o bigode e a barba enodoa.
O que as raças que habitam sob as copas
verdes
Titulam de séculos, se acumularam.
É chegado o aspirado lusco-fusco,
Mas embora anseie pelo alívio do cansaço,
À medida que o astro maior se dilui em
rubro
E o verde cede lugar ao negro dali até o
horizonte,
O sorriso apodrecido sucumbe ao medo
Do aceitado fadário que o espera.
Um último olhar nas pinturas
Daqueles que bravamente o antecederam
Substitui o sóbrio temor por um orgulho
tolo,
Mas quando garras negras adentram a
janela leste,
Toda a vã altanaria cede aos gritos de
horror
Que ecoam na íngreme torre milenar.
Nardélio Luz
150916
É de uma regularidade construtiva... o tema instiga e não é muito enigmático pela figura justaposta... parece o cerne de um conto...maestria se percebe... e influência de Lovecraft. Interessante o fantástico com o subjetivo escrevido bem...
ResponderExcluirSeu comentário é de uma sobriedade que me deixa feliz, Elcio. É muito bom quando conseguimos passar para o leitor aquilo que almejamos. Obrigado.
ResponderExcluirEu que agradeço por ter a oportunidade! Criadores alimentam-se de contatos com outros criadores,...
ExcluirEssa é uma grande verdade. :D
ExcluirBem ao seu estilo no Orkut Narfe. Saudades meu querido! Beijinho.
ResponderExcluirEu também sinto saudades daquela época, amore; quando as pessoas valorizavam mais a amizade. Eu continuo com o mesmo estilo, é meu preferido, só que às vezes diversificando um pouco. Beijo.
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