E a despeito dos trovões distantes,
Cai fina, ininterrupta e
despreocupada...
Alheia ao frio que penetra meus ossos
De forma rígida, insistente e
impiedosa,
Tal qual uma broca a furar a madeira.
Amo a chuva, mas detesto o frio!
A sensação de vazio subjuga a psique,
Empregando a textura de espinhos à
angústia,
Que às vezes se torna desesperadora
E noutras incute vontade de gargalhar,
Como insano que sou, ou deveria ser.
A razão tortura, a loucura alivia.
O som suave no telhado mofado
Se mescla ao gotejar incessante
Que estatela vigoroso no concreto,
Em mais uma tentativa de acalento
– Tão vã quanto as outras d’antes.
Há luz externa, e treva interna!
O que me perturba nesta manhã singular,
Está além da abrangência dos humanos
Ou da gentileza dos nobres elementos;
É grande e ao mesmo tempo intocável,
Algo gélido, tenebroso e inexorável.
É não entender, e, ainda assim, continuar!
Agora, após horas nesta introspecção,
A chuva cansou e se foi de mansinho
E o coral de gotas deu lugar ao vento.
Apenas o frio egoísta não larga o
osso,
E continua a fustigar os seres lá fora
E a enregelar minha alma aqui dentro.
Gostaria de gritar, mas para quê?
Nardélio F. Luz
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