quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Atormentado

https://pixabay.com/pt/

Atormentado

E seria suficiente o amor?
Ah, não... Decerto que não!
Amargamos guerras pela vida,
Resumidas a dois contra mais.
Neste mundo de hostilidades
Onde a poesia se tornou pecado
E toda a arte ardeu na fogueira,
Não há paixão, não há mais.

Ela fora arrastada rudemente
E seu nobre coração sangrou
Sobre as páginas amarelentas
Do alfarrábio pseudo sagrado.
E atado a grilhões traiçoeiros,
Jorrei lágrimas de luto e raiva;
Meu sangue verteu das chagas
E o espírito jazeu alquebrado.

Não há lugar para o sublime,
O pulcro das velhas histórias
Ou a perfeição da franqueza
Que execram os ominosos.
Apenas para a intolerância
E o ardil perverso dos altos,
Que espezinham os baixos
Sob os coturnos lustrosos.

Segundo as velhas histórias,
Em tempos remotos já houve
Dias de luz e noites tranquilas
Em que se ouviam anjos no céu.
Mas não mais... Ah, não há mais!
Nestas presentes paragens frias,
A liberdade é fantasia proibida
E a felicidade um delírio cruel.

Dissimulam-se no que é sacro
Para abonar as tais lambanças,
Mas na surdina de seus antros
Reverberam os risos infernais.
Tornando as crenças paródias,
Celebram a morte como diva
E o profano como professor
Em furtivos ritos abissais.

E aqui, neste negro calabouço,
Na companhia única dos ratos,
Donos da minha carne e ossos,
Esbarro no consolo da loucura.
Aguardo o adágio dos togados,
E, por conseguinte, o cadafalso,
Para encontrar a minha amada
Na outra vida, pós-sepultura.

A dor? Ah, com essa aprendi...
Nela eu submergi estraçalhado,
Mas resisti ao assédio da vingança
Nesta mestral escuridão silente.
O amor? Ah, sim... O amor!...
Esse aqui pode não mais existir,
Mas lá para onde anseio ir...
Lá sim, o amor é suficiente.

Nardélio F. Luz

Nenhum comentário:

Postar um comentário