segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Amor Sublime

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Amor Sublime


Quando primeiramente nos vimos, ela pareceu-me incoerente,
Porém, assim como quem não quer nada, tocou-me levemente,
E ao ler errado nas entrelinhas, temi e ansiei por fugir.
Demonstrando sabedoria, ela dizia não se tratar de um encontro,
Mas de algo em sonhos anunciado, um enaltecido reencontro...
Todavia, no meu ceticismo característico, ateísta a desdenhei.

Eu exercia com vigor a áspera convicção de ficar sozinho,
Mas ela, com calma e astúcia, reaproximou devagarzinho,
E sem alarde alcançou minha consentida solidão.
Na resignada aceitação submetida, a tive como uma amiga,
Que numa calculada sutileza, falava de anjos, de vida antiga...
E, terna e gentil, tocou profundamente meu inóspito coração.

Ainda um casca-grossa inveterado, de austera convicção,
Aos poucos, fui perdendo o aferro à sua doce persuasão,
De larga sapiência, assentamento, e gestos angelicais.
Ela era um amálgama de ternura e algo mais que o belo,
E minou de vez a resistência do meu abarbarado castelo,
Apresentando-me ao inédito, a sonhos sonhados jamais.

Falava-me do onírico ao real, de vidas vividas, de raiz,
Com a digna humildade do mestre que também é aprendiz,
Mas com a propriedade de quem jamais teme errar.
Abrindo minha mente e meu coração, antes descrentes,
Para o invisível que vive numa outra esfera ascendente,
Que existiu, coexiste e para todo o sempre estará lá.

Como a própria Vênus, ela detém encantos da planta à palma,
Porém, é marcada por densas cicatrizes incrustadas na alma,
Numa fundura invisível ao cinzel do mais hábil escultor.
Mas, na humildade, é outra beleza que ela exala e valoriza,
A citada por Exupéry, invisível aos olhos, câmeras e prismas:
A pulcra, transcendental e excelsa formosura interior.

Sorriso largo, sem motivo, bobo como criança elogiada,
Algo como o anseio pelo reencontro na tarde esperada;
O desejar sem possessão, que não castra a liberdade.
O ser do outro sem pedir, o sonhar sem dormir; a esperança
De suportar a ignóbil distância, que no peito causa ânsia,
E nos incita a imaginação, fazendo sorrir sem ter vontade.

Deslizante e sutil como o próprio sono e a falaz serpente,
A saudade vai se esgueirando e penetrando a alma da gente,
Até do espírito, do coração, do corpo... Do todo se apossar.
Arrebata a concentração do dia, o sono da noite; e o alarido
Leva-nos a inspirações singulares, por vezes sem sentido,
Que falam da ausência, da espera, da lembrança a fustigar.

Maravilhosa, ela devolveu-me a vida e extintas emoções,
Restaurando um antigo sentir, de indizíveis proporções,
Que permite amar sem tocar, sentir saudade sem dor.
Fez de mim um ser melhor, com valor e responsabilidade;
Um discípulo da paz, da mansidão e da virtuosa humildade;
Desta mistura de emoção com razão, deste verdadeiro amor.


Nardélio F. Luz

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