sábado, 10 de junho de 2017

Perdido



Perdido


Despido da treva superficial que,
Supostamente, fazia cinza minha alma,
Eis que já não há qualquer conforto.
O que ameaça meu livre-arbítrio
É deveras mais profundo e impregnado
Do que jamais poderíamos supor.

Creio então, sádico ser satírico,
Que esta necessidade de ficar sozinho
Não pertence só a esta existência.
Seria, portanto, racional supor
Que execrável semente fora plantada
Em eras além desta memória?

Para tanto certamente fora tal
Vida desprovida das virtudes do amor
E coberta por mortalhas de dor.
Porém dane-se a maldita razão
E tu, anjo, com todas as tuas incertezas,
Que mais banem do que acolhem!

A masmorra que isola esta alma
Está além das minhas decisões externas
Ou de qualquer alcance terreno.
No éter negro destituído de calor,
Formas ou qualquer sentimento benigno,
Onde apenas o medo sussurra.

Temo — cada vez mais convicto —
Que nem no teu Céu nem na minha Terra
Haverá luz que possa alcançá-la.
E qualquer esboço de atitude
Ou chance de libertá-la, nefando espírito,
Já se perdera no imemoriável.


Nardélio F. Luz

2 comentários: