No
Acampamento
Afastei-me da fogueira e sentei pensativo
num velho tronco à beira do rio. Estava tão absorto com os ruídos noturnos e a
contemplação da lua que tive um pequeno sobressalto ao sentir a mão dela no meu
ombro.
— Será que vai chover?
— Está se formando algumas nuvens —
apontei com o queixo para a lua quase escondida, sem ter certeza se ela notou
meu gesto na penumbra —, mas se chover será lá pela madrugada.
— E você não trouxe barraca, não é? — o
sorriso dela era encantador.
Voltei os olhos para o acampamento onde nossos
amigos se divertiam ao som do violão.
— Não achei necessário. Mas se for
preciso, pegarei uma beirada com alguém.
Coloquei um tom malicioso nas últimas
palavras, mas ela não pareceu notar a brincadeira. Era a jovem mais doce e inocente
que já havia conhecido. Esbocei novo sorriso e optei por não ser inconveniente.
— A lua está linda — mudei de assunto,
sem qualquer ênfase na voz.
— Está mesmo — ela concordou, enquanto se
sentava ao meu lado no tronco apodrecido.
Éramos amigos. Tão amigos que nunca antes
a tinha notado como mulher, mas naquele momento senti algo inusitado. Talvez
tivesse exagerado na vodca com abacaxi a ponto de exacerbar minha libido, ou
fora o perfume dela trazido pela suave brisa noturna. Não sei. E para ser
sincero, não é relevante. O fato é que minha amiga era muito bonita e de
repente todos os meus sentidos passaram a captar sua feminilidade. Ela amava
outro, eu amava outra. E ambos tínhamos sido traídos recentemente.
— Não está com frio? — ela se referiu ao
fato de eu estar sem camisa, pois todos estivemos nadando antes de começarmos a
beber.
— Não — respondi simplesmente. — O clima está
gostoso.
— Eu preferi me trocar, para evitar qualquer resfriado — ela quase sussurrou.
— Eu preferi me trocar, para evitar qualquer resfriado — ela quase sussurrou.
— Que perfume você usa? — indaguei,
observando suas malhas leves.
— Não é perfume, é loção hidratante para
o corpo.
“E que corpo!”, pensei ao mesmo tempo em que
sentia algo novo; incômodo, mas delicioso.
— “Algodão”, da Natura. Gosta?
— Muito.
Nardélio
Luz
031116
Uma delícia fazer parte desta viagem,onde os nossos devaneios nos transportam a mundos encartados onde o sutil e provante se misturam na imaginação e nos faz sentir até o aroma do acampamento.
ResponderExcluirBeijos poeta! 😍😘
Obrigado Roh! Eu fico feliz por conseguir transportá-la nesta "viagem", pois é esse o objetivo de qualquer escritor! Obrigado pelo carinho! Beijo grande!😘
ExcluirProsa que flui bem em sua escrita. (Prosa de gênero literário e de cotidiano)
ResponderExcluirDevaneios de uma noite em que o sono fugiu, meu caro Elcio. Um abraço.
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