Fuga
É para lá das coisas que respiram
Que fica o reino ignoto de onde venho.
É um lugar que ninguém daqui conhece,
Pois quem lá esteve, por certo não voltou.
Lá, a noite se alarga além das horas tardias
E a lua furta a superfície da própria corrida,
Impondo o lampejo de estrelas estranhas,
Numa sinistra configuração alienígena.
Os líquens não escolhem lado para crescer,
Apenas abraçam o tronco podre como salvador,
Ainda que as negras águas oleosas do rio abaixo
Neguem a vida, à colônia ou ao débil suporte.
Seres pequenos e arredios, privados de almas,
Com formas indizíveis e texturas repelentes,
Se arrastam sobre os pântanos infestados,
Sorrateiros, caçando e sendo predados.
Entre cá e lá há um vácuo monstruoso
Arrebatando o sono de qualquer pensante;
Um precipício disforme de escuridão silente
Que engole a quem ouse encarar tal loucura.
Alertei-vos, senhores, pois que não intuiriam
A minha predileção por estas vis correntes...
Mil vezes a constrição eterna das grilhetas
Do que a agonia de lá ter que retornar!
Nardélio F. Luz
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